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WILLIE DIXON: O COMPOSITOR QUE COLOCOU PALAVRAS NAS BOCAS DOS MAIORES CANTORES DE BLUES DE TODOS OS TEMPOS

por Chico Marques


Willie Dixon foi, sem dúvida, o maior compositor de blues da História do Blues de Chicago.

Não se tem notícia de outro compositor antes dele que tenha abastecido com novas canções tantos artistas de blues, e que tenha sido capaz de compor números clássicos numa linha de produção extremamente prolífica ao longo dos muitos anos em que bateu ponto quase diariamente nos Estúdios Chess.

Claro que o fato de ter sido o maior não quer dizer que ele tenha sido também o melhor compositor de blues de todos os tempos; suas canções sempre seguiram uma mesma fórmula para obter aceitação imediata do público, e jamais primaram por ousadias melódicas -- tanto que, nesse quesito, as composições de Skip James, Robert Johnson, T-Bone Walker, Elmore James, Jimmy Reed, Lightnin' Hopkins e Sonny Boy Williamson são infinitamente superiores às de Willie Dixon.

Claro que isso não reduz de forma alguma a importância e a grandeza do legado musical deste artista multi-talentoso nascido William James Dixon no dia 3 de Julho de 1915 em Vicksburg, Minnesota, bem distante do coração do blues no Delta do Mississippi, mas relativamente perto de Chicago.



Willie Dixon foi criado em meio a 14 irmãos, trabalhou duro ao longo de toda a sua infância, e começou a cantar profissionalmente aos onze anos de idade, no grupo vocal "The Union Jubilee Singers".

Aos 14 foi morar em Chicago, onde virou um boxeador peso-pesado de algum sucesso -- e, estranhamente, justamente nesses seus anos como pugilista profissional, ele aprendeu a tocar contrabaixo.

Em 1940, deixou o boxing de lado e passou gravar com grupos de jazz que seguiam mais ou menos a linha musical de Nat King Cole, e aos poucos foi-se transformando no grande Willie Dixon como conhecemos hoje: músico, compositor, arranjador, produtor e caçador de talentos para os irmãos Phil e Leonard Chess, da Chess Records.

Willie compôs mais de 300 músicas -- entre as mais conhecidas estão "Back Door Man", "Evil", "My Baby", "Bring It On Home", "Big Boss Man", "Broken Hearted Blues", "Built For Comfort", "Do The Do", Down In The Bottom", "I Ain't Superstitious", "I Just Want To Make Love To You", "I'm Ready", "I'm Your Hoochie Coochie Man", "Little Red Rooster", "Spoonful", "300 Pound of Joy", "Wang Dang Doodle", "You Can't Judge A Book By It's Cover" e "You Shook Me".



Apesar de ser provavelmente o compositor de blues mais gravado por artistas de rock nos últimos 50 anos, Willie Dixon não recebeu nos Anos 60 e 70 um tostão sequer referente ao pagamento de direitos autorais das canções que compôs.

Só a partir de meados dos Anos 80, depois de um longo e exaustivo processo que ele e Muddy Waters moveram contra a Arc Music -- editora que cuidava de angariar os direitos autorais e repassá-los aos compositores -- é que finalmente começaram receber o que lhes era devido, incluindo os pagamentos retroativos.

Aproveitando o embalo, os advogados de Dixon e Waters processaram também vários artistas e grupos que haviam se apropriado indevidamente de suas canções -- entre eles, o Led Zeppelin -- e tiveram ganho de causa em todas as ações.

Em consequência disso tudo, Willie Dixon fez quessão de trabalhar como consultor voluntário para várias organizações que prestavam ajuda jurídica para artistas de blues menos conhecidos, que muitas vezes nem sabiam o significado do termo "direitos autorais".



Graças a essas iniciativas saneadoras, Willie Dixon conseguiu ter um final de vida bastante tranquilo em termos financeiros, e ainda deixou seus herdeiros bem calçados.

Manteve-se na ativa até dois anos antes de morrer, excursionando pela Europa com bastante frequência e gravando discos festejados como "Hidden Charms" (1985), que lhe rendeu o Grammy de Melhor LP de blues tradicional daquele ano.

Mas, de todos os prêmios que recebeu em seu fim de vida, o que mais lhe agradou foi ter sido o primeiro artista de blues vivo a ser contemplado com um box set: "Willie Dixon: The Chess Box", (1988 Chess-MCA).

Willie Dixon morreu dormindo em 1992, aos 77 anos, da maneira mais tranquila possível, depois de ter vivido intensamente os dois extremos da vida: a pobreza quase absoluta e o reconhecimento artístico e financeiro por seu trabalho.








Willie's Blues
(1959 Bluesville)
Uma pequena maravilha essa sessão gravada em meio a uma tournée, num intervalo de poucas horas entre um vôo e outro. Por mais que a voz de Dixon não seja o veículo perfeito para suas canções, sua clássica dobradinha com o pianista Memphis Slim é campeã, e rendeu grandes discos: a maioria deles com o nome de Memphis Slim vindo em primeiro lugar. Este aqui foi o primeirão a trazer o nome Willie Dixon na frente.


The Blues Every Which Way
(1960 Verve)
Esse disco que a dupla Memphis Slim e Willie Dixon gravou para a Verve é bem menos cerimonioso e mais dinâmico que os LPs gravados para a Folkways. É também mais democrático, na medida em que os dois alternam os vocais nas 10 faixas. Sem contar que a descontração é absoluta e o repertório, perfeito.

I Am the Blues
(1970 Columbia)
Eis aqui a estreia de Willie Dixon como solista num disco soberbo da Columbia Records, com seu repertório mais clássico, e acompanhado pela formação original dos Chicago Blues All-Stars: Walter Horton na harmonica, Clifton James na bateria, Johnny Shines na guitarra, Lafayette Leake e Sunnyland Slim se alternando ao piano, e Dixon no baixo acústico. Até sua voz está melhor colocada que o habitual. No mesmo ano, Dixon participaria como baixista da banda do primeiro disco solo de Johnny Winter na Columbia.

Hidden Charms
(1988 Bug)
O melhor disco de Willie Dixon, produzido com muito carinho por T-Bone Burnett, que providenciou uma leveza e um dinamismo natural jamais alcançados em qualquer um de seus LPs anteriores. Ganhou um merecidíssimo Grammy de Melhor Disco de Blues Tradicional e livrou Dixon da fama de "backdoor man" de uma vez por todas, tornando-o um artista solo em definitivo.

Willie Dixon: The Chess Box
(1988 MCA)
Willie Dixon quase não gravou solo nos anos em que bateu ponto nos Estúdios Chess. Em compensação, fez verdadeiros milagres em discos de terceiros, e essas maravilhas estão todas reunidas aqui. Nada mais perfeito que as canções de Willie Dixon cantadas pelos intérpretes para os quais elas foram originalmente escritas. São 3 LPs ou 2 cds absolutamente vitais, com o crème de la crème dos singles da Chess Records. 

The Songs Of Willie Dixon
(2008 Telarc)
Disparado, o melhor dos vários discos tributo gravados em homenagem a Willie Dixon, com performances fulminantes de artistas do primeiro time da cena atual do blues. Na medida em que se trata de um projeto da Telarc, podemos partir de alguns pressupostos: (1) o som é espetacular, (2) a produção é de primeira linha, e (3) o elenco de convidados é estelar e muito bem pago, o que, de certa forma, garante um resultado superior ao produto final. Destaque todo especial para Clarence Gatemouth Brown e sua versão impagável para "I Just Want To Make Love To You", e "Shakin' The Shack" com o pianista David Maxwell e o gaitista Jerry Portnoy.    







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