HÁ 119 ANOS, NASCIA BIG BILL BROONZY, O ARTISTA DE BLUES MAIS INFLUENTE E MELHOR SUCEDIDO DOS ANOS 40 E 50.
por Chico Marques
Há quase 12 décadas -- mais exatamente, 119 anos -- , nascia em Scott County, no coração do Mississippi, o fabuloso cantor de blues William Lee Conley Broonzy.
Foi no dia 26 de Junho de 1893. Ao menos, é o que consta em sua biografia oficial. Há quem afirme, no entanto, que ele teria nascido em 1898, pois nessa época era comum homens negros aumentarem a idade para conseguir começar a trabalhar mais cedo, ou entrar no Serviço Militar, o que muito provavelmente foi o caso de Broonzy também.
Filho de ex-escravos das plantações de algodão, Broonzy tinha 17 irmãos. Quando a família mudou para o Arkansas, seu tio Jerry Becher -- que era músico profissional, e tocava vez ou outra com o grande Stonewall Jackson -- logo viu que o menino levava jeito para a música. Ensinou-o a tocar violino, para acompanhá-lo em suas cantorias, mas ele não se entusiasmou muito a princípio. Só aos dez anos de idade, quando conheceu o lendário violinista C.C. Rider, que era amigão de seu tio, foi que ele finalmente se apaixonou pelo instrumento.
Daí em frente, Broonzy pegou gosto pela coisa. Construiu seu primeiro violino artesanalmente. Carismático que era, Broonzy virou cantor popular e pregador religioso, tudo ao mesmo tempo, tocando na noite e nas igrejas. Então, seguiu para a Europa, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ao voltar, em 1919, retomou sua velha rotina como músico -- até que seu pai, muito religioso e bastante incomodado com a atitude exageradamente ecumênica de seu filho para a época, deu a ele um ultimato: a música ou a igreja.
Broonzy escolheu a música, claro! Deixou o Mississippi em 1924 e foi tentar a sorte em Chicago, Illinois, onde conheceu Papa Charlie Jackson, que foi quem o ensinou a tocar guitarra. Dono de um vozeirão espetacular, Broonzy impressionou logo de cara os donos de gravadoras da Windy City em gravações bem despojadas, só com voz e violão, bem no estilo clássico da época. Foi só por volta de 1936 que ele conseguiu convencer seus produtores a gravar um repertório mais urbano com sua banda de apoio, Big Bill and his Chicago Five, o que era bastante incomum na época. Com isso, semeou o que, alguns anos mais tarde, viria a ser conhecido como Chicago Blues.
O nome Big Bill Broonzy ficou conhecido por toda a América depois de participar de uma longa tournée ao lado da fabulosa cantora Memphis Minnie, que já era uma estrela. E então, em 1938, surgiu sua primeira grande chance: foi convidado para cantar no Carnegie Hall no grande show de John Hammond "From Spirituals To Swing", em substituição a Robert Johnson, que morreu pouco tempo antes da realização do show. E todos os brancos que o ouviram neste show, nunca mais o esqueceram.
"From Spirituals To Swing" abriu as portas das gravadoras para Broonzy, que acabou fazendo uma carreira impressionante ao longo dos Anos 40 e 50, tornando-se extremamente popular tanto entre os negros quanto entre os brancos. Gravou discos para o público negro acompanhado de bandas em selos como Mercury e Chess, e também discos para o público branco no estilo folk-blues, só com voz e violão, para a Verve e para a MGM.
Broonzy ganhou o mundo. Tinha admiradores nos quatro cantos do Planeta Terra. Circulou bastante pela Europa, onde era recebido como herói. Driblou como pode as limitações impostas pelo racismo arraigado vigente na época, e jamais permitiu que lhe dissessem o que podia e o que não podia fazer. Foi o primeiro bluesman a escrever uma autobiografia, indo onde nenhum bluesman jamais esteve.
Quando voltou para Chicago em 1956, Broonzy já estava com sua saúde bastante debilitada. Como se cuidava de forma precária, custou a saber que sofria de câncer no pulmão. Mesmo assim, continuou gravando e se apresentando ao vivo enquanto aguentou.
Quando morreu, em 14 de Agosto de 1958, aos 60 anos de idade, deixou como legado quase 200 composições originais -- que permanecem sendo regravadas pelas novas gerações de artistas de blues, tradicionalistas ou não --, além de uma herança musical fonográfica que, de tão vital, ajuda a manter o blues vivo e operante até os dias de hoje.
Há quase 12 décadas -- mais exatamente, 119 anos -- , nascia em Scott County, no coração do Mississippi, o fabuloso cantor de blues William Lee Conley Broonzy.
Foi no dia 26 de Junho de 1893. Ao menos, é o que consta em sua biografia oficial. Há quem afirme, no entanto, que ele teria nascido em 1898, pois nessa época era comum homens negros aumentarem a idade para conseguir começar a trabalhar mais cedo, ou entrar no Serviço Militar, o que muito provavelmente foi o caso de Broonzy também.
Filho de ex-escravos das plantações de algodão, Broonzy tinha 17 irmãos. Quando a família mudou para o Arkansas, seu tio Jerry Becher -- que era músico profissional, e tocava vez ou outra com o grande Stonewall Jackson -- logo viu que o menino levava jeito para a música. Ensinou-o a tocar violino, para acompanhá-lo em suas cantorias, mas ele não se entusiasmou muito a princípio. Só aos dez anos de idade, quando conheceu o lendário violinista C.C. Rider, que era amigão de seu tio, foi que ele finalmente se apaixonou pelo instrumento.
Daí em frente, Broonzy pegou gosto pela coisa. Construiu seu primeiro violino artesanalmente. Carismático que era, Broonzy virou cantor popular e pregador religioso, tudo ao mesmo tempo, tocando na noite e nas igrejas. Então, seguiu para a Europa, para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ao voltar, em 1919, retomou sua velha rotina como músico -- até que seu pai, muito religioso e bastante incomodado com a atitude exageradamente ecumênica de seu filho para a época, deu a ele um ultimato: a música ou a igreja.
Broonzy escolheu a música, claro! Deixou o Mississippi em 1924 e foi tentar a sorte em Chicago, Illinois, onde conheceu Papa Charlie Jackson, que foi quem o ensinou a tocar guitarra. Dono de um vozeirão espetacular, Broonzy impressionou logo de cara os donos de gravadoras da Windy City em gravações bem despojadas, só com voz e violão, bem no estilo clássico da época. Foi só por volta de 1936 que ele conseguiu convencer seus produtores a gravar um repertório mais urbano com sua banda de apoio, Big Bill and his Chicago Five, o que era bastante incomum na época. Com isso, semeou o que, alguns anos mais tarde, viria a ser conhecido como Chicago Blues.
O nome Big Bill Broonzy ficou conhecido por toda a América depois de participar de uma longa tournée ao lado da fabulosa cantora Memphis Minnie, que já era uma estrela. E então, em 1938, surgiu sua primeira grande chance: foi convidado para cantar no Carnegie Hall no grande show de John Hammond "From Spirituals To Swing", em substituição a Robert Johnson, que morreu pouco tempo antes da realização do show. E todos os brancos que o ouviram neste show, nunca mais o esqueceram.
"From Spirituals To Swing" abriu as portas das gravadoras para Broonzy, que acabou fazendo uma carreira impressionante ao longo dos Anos 40 e 50, tornando-se extremamente popular tanto entre os negros quanto entre os brancos. Gravou discos para o público negro acompanhado de bandas em selos como Mercury e Chess, e também discos para o público branco no estilo folk-blues, só com voz e violão, para a Verve e para a MGM.
Broonzy ganhou o mundo. Tinha admiradores nos quatro cantos do Planeta Terra. Circulou bastante pela Europa, onde era recebido como herói. Driblou como pode as limitações impostas pelo racismo arraigado vigente na época, e jamais permitiu que lhe dissessem o que podia e o que não podia fazer. Foi o primeiro bluesman a escrever uma autobiografia, indo onde nenhum bluesman jamais esteve.
Quando voltou para Chicago em 1956, Broonzy já estava com sua saúde bastante debilitada. Como se cuidava de forma precária, custou a saber que sofria de câncer no pulmão. Mesmo assim, continuou gravando e se apresentando ao vivo enquanto aguentou.
Quando morreu, em 14 de Agosto de 1958, aos 60 anos de idade, deixou como legado quase 200 composições originais -- que permanecem sendo regravadas pelas novas gerações de artistas de blues, tradicionalistas ou não --, além de uma herança musical fonográfica que, de tão vital, ajuda a manter o blues vivo e operante até os dias de hoje.
Uma excelente porta de entrada para a obra desse grande mestre do blues, num disco relativamente fácil de encontrar por aí, até porque teve edições em LP e CD aqui no Brasil. Reúne 20 grandes gravações feitas para os selos Vocalion, ARC e Columbia entre 1930 e 1940, com Broonzy acompanhado por Blind John Davis e Joshua Altheimer e com sua voz tinindo. Tudo remasterizado à perfeição.
Essas 44 gravações feitas para o selo VOGUE entre 1951 e 1952 foram lançadas originalmente em LPs de 10 polegadas, e trazem Broonzy em excelente forma cantando para sua plateia branca em números de voz e violão deliciosos, que vez ou outra recebem o delicado piano de Blind John Davis. Enfim reunidas num mesmo pacote, elas soam soberbas e fundamentais, tanto para fãs mais "diehard" de Broonzy quanto para os recém-iniciados em sua obra.
Nas 27 faixas dessa antologia, o já veterano Broonzy mergulha de cabeça no Chicago Blues e produz alguns dos números mais vigorosos e suingados de toda a sua trajetória artística. Foi nessa época que ele ganhou a simpatia e a reverência de toda uma nova geração de músicos de Chicago -- entre eles Muddy Waters e Willie Dixon, com quem ele trabalharia frequentemente nos anos seguintes.
Há quem torça o nariz para esse entusiasmado LP que Broonzy gravou meio a toque de caixa com seu meio-irmão Washboard Sam para Leonard Chess. O próprio Chess nunca achou que ele merecesse ser lançado, e manteve-o guardado nas "geladeiras" da gravadora -- tanto que o disco só veio a público em 1964, seis anos depois da morte de Broonzy. Eu, pessoalmente, acho essa colaboração maravilhosa, até porque foi o primeiro disco de Broonzy que tive o prazer de ouvir. Recomendo entusiasmadamente.
O motivo provável pelo qual Big Bill Broonzy está tão à vontade nessas London Sessions de 1955 é que os ingleses nunca esconderam que, ao contrário dos brancos americanos, sempre preferiam suas gravações com banda tocando Chicago Blues. E Broonzy surge aqui à frente de uma banda enorme, com uma sessão de metais bem robusta, demonstrando uma jovialidade que seus discos americanos não tinham mais há uns bons anos. São gravações feitas para o selo londrino Pye Records. Todas absolutamente indispensáveis.
Este LP original da Folkways gravado em 1956 é relativamente fácil de achar por aí e
traz Broonzy passeando por um repertório bem folk mesclado com canções populares como "The Glory Of Love". Curiosamente, o resultado final do LP, que tinha tudo para ser meio duvidoso, acabou resultando num dos mais belos discos de toda a sua carreira, e num dos discos de blues mais fundamentais de todos os tempos. Para ouvir de joelhos.
Eis aqui o Canto do Cisne de Big Bill Broonzy. As gravações reunidas nesses 3 cds -- era originalmente uma caixa com 5 LPs -- foram feitas para a Verve Records em três sessões realizadas nos dias 12 e 13 de julho de 1957, poucos dias antes dele entrar no hospital para a cirurgia no câncer de pulmão que encerraria sua carreira e tiraria sua vida um ano depois. Seu fôlego está fraco, sua voz um pouco cansada, mas mesmo assim seu ânimo segue firme e forte, e ele passeia pelo seu repertório clássico com
tranquilidade absoluta e a maestria habitual. Trata-se de um disco lindíssimo, uma espécie de testamento musical deste grande artista. Mesmo assim, não é um disco fundamental em sua discografia. Considerem mais uma escolha afetiva do que qualquer outra coisa.
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