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O SOM E A FÚRIA DE JOHN PRIMER E A REAL DEAL BAND EM "THAT WILL NEVER DO"



Quando chegou a Chicago em 1963 e viu Otis Rush em ação num palco da Zona Sul da cidade, John Primer soube imediatamente onde queria chegar como guitarrista. Só não imaginava que iria levar tanto tempo para conseguir deixar de ser sideman se lançar como artista solo.

Foram nada menos que 13 anos à frente dos Teatrdrops, banda do saudoso Magic Slim, depois de trabalhar como músico estepe nas road bands de Muddy Waters e Willie Dixon nos Anos 1970.

  Sua sonoridade é fidelíssima à essência do Chicago Blues: usa e abusa de acordes aparentemente rústicos, mas no fundo extremamente elegante e sofisticados, seguindo a tradição de seu mentor e amigo Sammy Lawhorne.

Primer estreou solo em dois grandes discos para a Wolf Records no início dos anos 90,  gravados nos intervalos de sessões de estúdio de Magic Slim and The Teardrops -- tanto que, nesses discos, sua banda de apoio é The Teardrops e o patrão Magic Slim participa humildemente como sideman de seu fiel escudeiro.

(na entrevista que consta na postagem anterior deste blog, Primer relembra essas gravações com um carinho todo especial) 



Quem viu Magic Slim and The Teardrops ao vivo aqui no Brasil no início dos Anos 90, certamente viu Primer em ação comandando a banda com a "expertise" que lhe é peculiar e a malandragem estilística que todo músico de blues que se preze ostenta tranquilamente.

Lembro de uma apresentação deles num Festival de Blues no Ginásio do Ibirapuera, logo depois de um show morno e pouco suingado de Bo Diddley, que ganhou a platéia de imediato com uma peformance vibrante e inesquecível.

Mas é inegável que sua carreira solo começou para valer mesmo em 1995, com The Real Deal, um disco sensacional produzido pelo mestre Mike Vernon para sua Code Blue Records, que tinha distribuição internacional pela Warner Bros Records.



Foi a partir deste disco que o mundo conheceu o poder de fogo de Mr. Primer, e seu nome passou a ser sinônimo de Chicago Blues de primeira grandeza.

Acompanhado por uma banda estelar composta pelo gaitista Billy Branch, pelo pianista David Maxwell, pelo baixista Johnny B. Gayden e pelo baterista Earl Howell, Mr. Primer sou aproveitar sua chance -- até porque o selo de Mike Vernon teve vida curta, e não ofereceu a ele uma segunda oportunidade.

De lá para cá, ele segue numa carreira ascendente, com discos anuais por selos independentes como Telarc e Wolf, e um apego cada vez maior pela herança musical do Chicago Blues e pela preservação deste legado.



That Will Never Do (um lançamento Wolf Records), novo trabalho de Mr. Primer, foi gravado ao vivo anos passado e é seu primeiro disco como comandante de sua experimentadíssima road band The Real Deal Band: Bill Lupkin na harmonica, Melvin Smith no baixo e Lenny Media na bateria.

O repertório do disco não traz grandes novidades: é quase um compêndio de clássicos do Chicago Blues compostos do Muddy Waters e Willie Dixon mesclados com números de Sammy Lawhorne e do próprio John Primer.

Mas as performances são sensacionais, e devem satisfazer até mesmo aqueles que não tem muito apego ao Chicago Blues tradicional e preferem esses jovens guitarristas mais escandalosos e menos maduros musicalmente.

Convenhamos: não dá para ficar insensível ao savoir-faire musical de Mr. John Primer.






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