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PETER GREEN COMPLETA 69 ANOS DE IDADE PROMOVENDO UM RESGATE CRÍTICO DE SEU PASSADO MUSICAL


Depois de fazer parte dos Bluesbreakers de John Mayall, você cresceu musicalmente. Algumas das músicas que você escreveu no Fleetwood Mac viraram clássicos... 

Peter Green: Não é bem assim. Era fantástico tocar com John Mayall naquela banda. Fazíamos uma música realmente intensa. Era uma loucura trabalhar com o baterista Aynsley Dunbar. Que baterista fantástico! 

Você veio do blues, ou você embarcou nele via Chuck Berry, como Eric Clapton? 

Peter Green: Nunca fui muito fã de Chuck Berry, sempre preferi Bo Diddley. Você fala em Chuck Berry e eu lembro dos Yardbirds, a maneira como eles tocavam "Little Queenie" era sensacional. Eu era um fã dos Rolling Stones e dos Beatles, e não conhecia os Yardbirds. Um dia, conversando com algumas garotas sobre nossos grupos favoritos, elas mencionaram os Yardbirds e eu fiquei curioso para conhecer o trabalho deles. Pouco tempo depois, conheci-os pessoalmente no Marquee e no Crawdaddy, e fiquei impressionadíssimo. Eu tocava baixo na época e acabei ficando muito amigo do baixista deles, Paul Samwell-Smith. Ele usava um baixo Epiphone Rivoli e um amplificador Marshall de 50 watts com um som fabuloso. Paul tinha um jeito bem jazzístico de fazer acordes no baixo, sempre com três cordas de uma vez, e eu achava aquilo sensacional. Na época eu tinha uma banda chamada The Muscrats, e começamos a tocar o repertório dos Yardbirds.


Não foi Eric Clapton quem te impressionou logo de cara, então?

Peter Green: Eu não era um guitarrista, eu tocava baixo. Além do mais, ele estava do outro lado do palco, e eu não podia ouvi-lo muito bem. Aquilo foi muito bom, muito emocionante. E então, depois de começar a prestar mais atenção em Eric Clapton, decidi começar a tocar guitarra também. Nos Bluesbreakers ele arrebentava. Na época ele não cantava, Sua concentração estava toda na guitarra. Ele tinha uma Telecaster, e também uma Les Paul. O movimento de seus dedos era fantástico.me levava para um outro mundo. Tudo o que eu tinha ouvido até então virou de ponta depois de conhecer melhor Eric Clapton. Eu adorava Les Paul e Mary Ford, mas nunca tinha ouvido alguém tocar guitarra daquele jeito. E o pior de tudo é que eu, com um pouco de esforço e treino, senti que conseguiria correr atrás dele.  Foi o que eu fiz.

Então você teve que comprar uma, certo? 

Peter Green: Eu estava à procura de algo mais poderoso do que a minha guitarra Harmony Meteor. Entrei na loja da Selmer da Charing Cross Road e comprei uma guitarra semelhante à dele. Custou apenas £ 110, tinha um som adorável e uma ótima cor. Mas era muito antiga. E era larga e pesada como um tronco de árvore. Na verdade, era bem diferente da guitarra de Eric, que era fininha. Mas era o que dava para comprar naquele momento. Não tinha como comprar uma Telecaster ou uma Stratocaster naquele momento. Hoje, sinto saudades da minha velha Harmony Meteor. O som que ela produziu na audição que fiz para Mayall antes de ingressar nos Bluesbreakers era simplesmente magnífica. Hoje eu uso um Fender Stratocaster e uma Gibson Howard Roberts Fusion, além de uma Gretsch Roc-Jet. 

Foi a sua Les Paul que o inspirou a usar timbres bem altos em "Supernatural"? 

Peter Green: Na verdade, foi idéia de Mike Vernon, nosso produtor. Ele comentou ter visto num show um guitarrista jogar uma nota alta, sustentá-la prolongadamente, para depois descer o acorde por todo o braço da guitarra. Eu tentei para ver no que dava, deu naquilo, e Mike gostou e propos usarmos.


Depois de sua temporada nos Bluesbreakers de John Mayall, você virou um grande compositor pop. Isso veio naturalmente? 

Peter Green: Bem, eu fui forçado a isso. Nunca me senti realmente um compositor. John Mayall vivia me testando para ver até onde eu poderia ir. Gostava da harmonia que eu fiz em "Coming On Top Of The Hill (A Hard Road)". Eu sempre achava um jeito de tentar entregar o que ele me pedia. Mas o caso é que eu nunca tive o blues entranhado em mim como quem viveu na América. Eu comecei apaixonado pelo rock and roll, e, de alguma forma, essa paixão acabou sendo revertida ao blues. 

Embora você esteja conectado desde sempre com o blues, sua música vai bem além dos 12 compassos, não é isso? 

Peter Green: Pois é. Por mais que eu adore o blues, o formato sempre me pareceu bastante restritivo. Um monte de canções que eu escrevi no passado, como "Man Of The World", não tinham a menor conexão com a estrutura do blues. Hoje eu adoro o que chamam de "world music". Adoro sonoridades árabes e chinesas. junto com a música bazouki grega. Sempre que posso, assisto apresentações de dança do ventre, adoro aquele tipo de música. Ainda costumo ouvir blues, mas estou longe de ser um revisionista. do gênero. Estou sempre mesclando tudo, e olhando adiante.


As platéias de hoje ainda insistem para que você toque canções dos Anos 60? 

Peter Green: Para ser bem honesto, eu toco porque não tenho muita alternativa, já que o repertório do Splinter Grouop não é tão extenso e popular assim. Mas tem algumas que toquei tanto na época que hoje não consigo tocar mais. "Man Of The World" é uma delas.

Você ainda gosta dos Beatles? 

Peter Green: Eu gosto demais de Paul McCartney. Acho paul simplesmente o máximo. 

E quanto a B B King, Albert King e Freddie King? 

Peter Green: Eram todos fabulosos, e com uma musicalidade assombrosamente simples. Tão simples que serviram como uma espécie de convite para que jovens entusiasmados como eu embarcassem na aventura de virar músicos profissionais .

Nos tempos dos Bluesbreakers de John Mayall, você e Clapton estavam na vanguarda. Não havia nenhum outro músico que conseguisse tocar mais rápido do que vocês naquele momento. Procede? 

Peter Green: Pode até ser verdade, mas era uma grande bobagem. Não dá para dizer que "tocávamos bem". Éramos muito jovens e abusados. Tocávamos mal, na verdade. Quando se toca pela velocidade, como eu fazia na época, sem trabalhar os climas e as inúmeras possibilidades que a música oferece, você não é nada além de uma piada. Claro que para nós, na época, parecia o contrário. Nos tratavam como heróis, e nos sentíamos como tal. Quer saber? Eu não tinha a menor idéia do que estava desenvolvendo na guitarra. Fazia tudo de orelhada. Tive muita sorte em conseguir chegar a algum lugar como guitarrista, de poder ter hoje um bom trabalho para mostrar. Houve momentos em que achei que não tivesse nada disso, que meu trabalho fosse inócuo, e isso era muito embaraçoso para mim. Fiquei 20 anos com minha carreira musical completamente travada. Hoje, felizmente, estou de volta à ativa, e me sinto bem. Consigo ter uma postura crítica em relação ao meu passado, e consigo olhar com clareza para as possibilidades que surgem pela frente.



Comments

  1. Peter Green: Pode até ser verdade, mas era uma grande bobagem. Não dá para dizer que "tocávamos bem". Éramos muito jovens e abusados. Tocávamos mal, na verdade. Quando se toca pela velocidade, como eu fazia na época, sem trabalhar os climas e as inúmeras possibilidades que a música oferece, você não é nada além de uma piada.
    ESSE DEVE SER O MANTRA DE TODO O JOVEM INSTRUMENTISTA!!! BELA ENTREVISTA!!

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