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NUNO MINDELIS FAZ 25 ANOS DE CARREIRA. CONHEÇA UM POUCO MAIS SOBRE ELA, E SOBRE ELE.

por Chico Marques

COMO TUDO COMEÇOU

Aprendi com violão, que eu tocava imitando guitarra. Meu primeiro doi um violão de lata de azeite de 5 litros, com cordas de fio de pesca, que eu mesmo fiz, por volta dos 5 ou 6 anos. A primeira guitarra uma Gibson Les Paul Custom, aos 17 anos, que tenho até hoje. Sempre que pude, aprendi a tocar outros instrumentos também: gaita, baixo, bateria... Minha, etc.
O INÍCIO DE CARREIRA

Recebi meu primeiro cachê profissional aos 14 anos por participação num disco de música africana de uma banda bem popular da época. O produtor ouviu falar de mim, mandou me pegar na escola -- ainda usava calção -- e eu queria misturar Hendrix com música típica africana. Quando estava engrenando aos 15 anos, já tocando em festivais e gigs ecom meu nome começando a sair nos jornais locais, fui exilado devido à Guerra Civil em Angola e fui parar no Canadá, com a roupa do corpo. Quando as coisas começaram a engrenar no Canada, participando de umas gigs com profissionais, soube que meu pai estaria no Rio de Janeiro. Não o via há um ano por causa da Guerra e fui encontrá-lo. Quando as coisas estavam engrenando no Rio, vim para São Paulo em 1976. Daí casei e tive três filhos em sequência, fui obrigado a arrumar um trampo regular e fiquei de molho até bem tarde. Só no final dos Anos 80 é que consegui remontar uma banda, sair por aí outra vez. Se bem que nunca parei completamente de tocar, por mais que trabalhasse o dia todo e fizesse Faculdade de Direito à noite. Sabe como é, eu era um exilado sem absolutamente nada, precisava garantir o leite das crianças.


INFLUÊNCIAS MAIS MARCANTES

Até 1975 ouvi literalmente tudo o que rolava de música no planeta, incluindo música brasileira. Shadows e Beatles aos cinco anos de idade, Big Bill Broonzy aos 12, Santana, Clapton, Hendrix, Peter Green, Mayall, e os mestres do blues de Chicago na mesma época (Howling Wolf, Elmore James, Willie Dixon, Lightning Hopkins, Muddy Waters, BB King, Albert King, Freddie King, todo o rock e o blues ingleses, o rock progressivo, Genesis, Gentle Giant, King Crimson, o começo do progressivo com Steppenwolf, Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep, Yes, Woodstock, Southern rock, Gratefull Dead, Allman Brothers, Folk com Dylan, Joan Baez, Woodie Guthtrie, Jazz com Coltrane, Dexter Gordon, Chick Corea, Mahavishnu Orquestra, (John McLauglin) Pink Floyd, enfim... tudo isso influenciou o meu estilo, mas o blues, que influenciou essa gente toda, predominou, compreensivelmente. Tudo era blues. E se repararmos, é até hoje. Beyoncé é blues.
A GUITARRA NA MÚSICA DE HOJE

Quanto mais acho que está moribunda pela profusão de gêneros que não a usam, mais os jovens me provam que ela está bem viva. Os shows sempre estão cheios de netos, pais e avós.
GUITARRISTAS BRASILEIROS FAVORITOS

Tem uma leva de novos músicos de blues muito talentosos que é ignorada pelas mídias -- como todo o blues aliás. Esta cheio de jovens talentosos, no Brasil: Artur Menezes, Igor Prado, Ary Borger, todos com um futuro brilhante pela frente.


25 ANOS DE "BLUES E DERIVADOS"

Pois é, parece que foi ontem que o gravei. Nunca mais o ouvi. Até que, uns 5 anos atrás, me deu vontade de ouví-lo novamente e achei algumas sonoridades bem legítimas, e outras bastante pretensiosas. Algumas mal cantadas. No meio, tem alguma composição digna de alguma nota.
DISCO PARA LEVAR PARA UMA ILHA DESERTA

"Melting Pot" do Booker T. & The MGs. Ou algum do Big Bill Broonzy. Ou "Axis Bold as Love" do Jimi Hendrix Experience. Ou talvez "Dark Side of the Moon", do Pink Floyd. Posso levar todos esses?
TIMBRE DE GUITARRA PERFEITO

O timbre perfeito para mim é o de uma Gibson e uma Fender plugadas num amplificador Fender Twin Reverb ou Fender Super Reverb. E as variações que podem surgir daí com wah wah, reverb analógico, tremolo. É sempre isso que uso, uma Gibson e/ou uma Fender num Fender Twin. Atualmente, ao vivo, uma Gibson SG 1972 e uma Stratocaster 1962 reissue e um Fender Twin Reverb Blackface 65 reissue. Um Wah Wah Cry Baby, um delay da Line Six (para uma música somente, no show todo). Em estúdio uso minha velha Gibson Les Paul 1968, uma Shecter Telecaster que ganhei da Guitar Player americana, uma Stratocaster 1958, e mais alguma guitarra ou outra que me agrade.

HISTÓRICO RECENTE

Gravei em 2013 mais um disco nos Estados Unidos, com produção e parceria do grande guitarrista Duke Robillard para o selo dele, Duchess Blue, que se chama "Angels and Clowns", e já está disponível no Brasil. Queria ter acompanhado a mixagem/masterização mas não consegui por conta de minha agenda de shows. Mas ficou do jeito que eu queria. Estou muito orgulhoso desse disco.
NOVOS PROJETOS

Estou terminando um disco em português que já tinha começado a fazer quando fui aos EUA gravar "Angels and Clowns" com Duke. Eu estava gostando bastante do que estava saindo quando interrompi o processo. Eu me sinto bem quando ouço os rascunhos, parecem indicar uma boa marca registrada, uma assinatura interessante. Fora isso, os meus cinco álbuns mais importantes estão sendo relançados numa caixa comemorativa de 25 anos de carreira pela Substancial Music, um time esforçado e perfeccionista, de uma dedicação elogiável. 
CONSELHO PARA OS JOVENS GUITARRISTAS 

O que sobra sempre é a nossa arte, é nela que devemos concentrar-nos com vagar, responsabilidade, olhar profundo, para criar algo que dure que tenha consistência artística, que mude a vida das pessoas, que faça a diferença. Pense "quero ser bom no que faço" ao invés de "quero ser famoso”. Ficar famoso pode ser uma decorrência de um trabalho bem feito. Não se deve subestimar a fase de aprendizado, são horas e horas de trabalho diário, de anos e anos, até se chegar a ser especialista em seja que atividade for. O nosso maior legado, é a nossa arte, não é a fama, nem a autopromoção, nem a fofoca da coluna social. É o trabalho, o álbum antológico, a densidade da sua arte. É isso que o tempo vai julgar.


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