Os Holmes Brothers são compostos pelo guitarista e vocalista Wendell Holmes, mais o baixista e vocalista Sherman Holmes, e ainda o baterista e vocalista Popsy Dixon. Eles nasceram na Virgínia e depois passaram mais de duas décadas circulando pela noite da cidade de Nova York, cada um tocando numa banda diferente. Só em 1980 eles uniram forças e criaram os Holmes Brothers, com sua deliciosa mistura de blues, soul e gospel. Em pouco tempo, estava, fora dos clubes noturnos da cidade rumo e frequentando festivais internacionais de blues.
O primeiro grande momento da banda veio num disco de gospel simplesmente divino gravado para o selo Real World, de Peter Gabriel, chamado "Jubilation". Depois compuseram a premiada trilha sonora para o filme independente "Lotto Land". E agora, na Alligator Records, eles chegam já brilhando forte com "Speaking in Tongues", produzido por uma velha amiga, a cantora pop Joan Osborne.
Sherman Holmes fala um pouco sobre tudo isso em sua casa em Nova York para a repórter Roberta Penn.
P: Speaking in Tongues é, de certa foma, um disco de spirituals. Era isso que vocês pretendiam fazer ao assinarem com a Alligator Records?
R: Mais ou menos, não exatamente gospel, mas algo bem spiritual, como você disse. Na verdade, Joan [Osborne] queria produzir um disco para nós, mas nós não queríamos fazer isso exatamente. Deu nisso que está no disco, e ficou bem interessante, funcionou muito bem. Optamos por um disco de gospel com um sotaque forte de blues porque sentimos que iríamos acabar competindo com muitos grupos de gospel, e não queríamos isso.
P: Como foi que Joan Osborne acabou produzindo o novo disco dos Holmes Brothers?
R: Conhecemos Joan faz tempo. Quando eu comandava jam sessions no Dan Lynch Club na década de 80, na 2nd Avenue em Nova York -- vim para Nova York em 1959 e tenho morado aqui desde então --, Joan costumava aparecer e cantar com a gente. Na época ela estava chegando na cidade para fazer cinema, e nós sempre nos demos muito bem.
P: E como foi tê-la como produtora?
R: Foi perfeito. Estava tudo em casa. Nós a conhecíamos bem, conversávamos bastante. Somos muito amigos, já faz muito tempo.
P: "Jubilation", gravado para a Real World alguns anos atrás, era totalmente gospel, não era?
R: Era. Mas, em outras circunstâncias, nós apenas incluímos um ou dois números de gospel em cada disco que gravamos, e também fazemos dois tipos de show: blues ou gospel. Pulamos de um gênero para o outro dependendo do perfil do lugar onde nos apresentamos. Mas apesar de termos crescido cantando e tocando gospel music, não nos consideramos artistas do gênero, apesar de meu irmão e eu termos sido pianistas de igreja. No entanto, sempre passeamos pelo gospel, não dá para evitar.
P: Como vocês três montam um disco juntos? O processo é democrático?
R: Meu irmão Wendell e eu compomos separadamente, e nossos produtores nos ajudam a escolher as canções que vão compor o disco. É democrático sim.
P: Você pronuncia o nome dele Wen-Dell, com ênfase na segunda sílaba...
R: [rindo] É porquê somos de Virginia. Fui eu quem o batizou Wendell quando ele nasceu. Sou 4 anos mais velho -- Popsy nasceu entre nós dois -- e Wendell Willkie estava concorrendo à Presidência dos Estados Unidos na ocasião...
P: Sua versão funky para a canção de Rosetta Tharpe "Can't Nobody Hold My Body Down" é sensacional. Como foi que ela foi elaborada?
R: Foi idéia de Joan. Meu irmão e eu fizemos o arranjo. Joan é admiradora de Ben Harper, e nós também.
P: A versão de "I Want to Be Ready" também é um estouro...
R: Trabahamos sobre o arranjo original dele, e depois colocamos nossa instrumentação. Acabou ficando com a cara dele. Sempre que cantamos juntos, nós tocamos nossos instrumentos, daí sempre estamos por inteiro em nossos discos. Conseguimos um organista para participar das gravações e um de nossos produtores, Andy Breslau, tocou harmonica em "Homeless Child". Além disso, nossa backup singer Catherine Russell tocou mandolin em uma das faixas.
P: Você compôs "Speaking in Tongues". O que o inspirou para fazer isso?
R: Eu fui a uma igreja com minha mulher um dia, e o pastor começou a falar sobre pessoas que falam outras línguas. Daí, comecei a compor uma canção de amor, e terminei com uma canção gospel nas mãos.
P: Vocês costumam escutar muita música quando estão na estrada?
R: Claro, eu escuto muita música clássica, jazz e country. Eu adoro música irlandesa. Ultimamente tenho ouvido bastante o Adagio para Cordas de Samuel Barber. Adoro tonalidades mas do que a própria música, e isso de certa forma me carrega para um mundo próprio. Eu sou capaz de me perder na música -- no bom sentido, claro.
P: Você é criticado por misturar música clássica com música de igreja?
R: Não ligamos para isso. Olha, o blues veio do gospel. Thomas Dorsey tocava blues, e tocava na igreja. Desde então, o gospel tenta se separar disso tudo. Nós não concordamos com isso, e seguimos na contramão, que nos parece um caminho musical muito mais natural. Algumas igrejas tem horror aos Holmes Brothers. Outras não se importam, e nos aceitam. Eu tenho uma tia que não concorda com essa coisa de levar guitarras para a igreja. Ela nunca esteve em nenhum dos nossos shows. O pai dela era pastor.
P: E as outras pessoas em sua família, elas apóiam essas aventuras musicais?
R: Sim, nosso pai, que morreu faz pouco tempo, foi nosso maior apoiador. Ele chegou a ouvir "Speaking in Tongues" ainda não mixado, e adorou. Ele adorava tudo o que fazíamos. Falava de nós o tempo todo, tanto que dedicamos esse disco a ele.
(publicado originalmente pela Barnes&Noble.com - tradução: Chico Marques)
Mais sobre os Holmes Brothers em seu website
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